Tags
adultério, autoritarismo, Álvares de Azevedo, Byron, Capitães da areia, Capitu, Castro Alves, censura, contos, crítica, crítica social, criacionista, debate político e social, denúncia social, desigualdade social, Deus, diálogo, diversidade cultural, Dom Casmurro, elite patriarcal brasileira, escola sem partido, escravização, escravos, esquerdismo militante, estado laico, Ferreira Gullar, formação cidadã, Gil Vicente, Gonçalves Dias, governo golpista, Graciliano Ramos, identidade, igualdade, Jorge Amado, José de Alencar, José Ruy Lozano, leitura, liberdade, literatura, livros, machado de assis, Musset, negros, Noite na taverna, O navio negreiro, obras engajadas, PNE, poesia, polarização política, povos indígenas, provatização do ensino, religião, retrocesso, romance, Satanás, Vidas secas
O que seria da literatura numa “escola sem partido”?
Dom Casmurro, de Machado de Assis, continuaria a ser um romance de adultério
José Ruy Lozano
Aconteceu em meados de 1990. O aluno, de família religiosa, dirige-se ao professor e afirma, em alto e bom som: “Não vou ler esse livro aí, é obra de Satanás”. A obra em questão era Noite na taverna, de Álvares de Azevedo, o romântico brasileiro discípulo de Byron e Musset, que temperou os enredos de seus contos com cemitérios, crânios humanos e orgias à meia-noite.
À época, não havia sombra do debate sobre a “escola sem partido”, frequente no ambiente de extrema polarização política que hoje toma conta do Brasil. Mas o fato – verídico – revela a impossibilidade de trabalhar com a literatura numa escola pretensamente neutralizada de qualquer questionamento histórico, político, social ou comportamental.
Para os defensores da ideia de uma “escola sem partido”, que ameaça a educação nacional, Dom Casmurro, obra-prima de Machado de Assis, continuaria a ser um romance de adultério. E Capitu, a Madame Bovary dos trópicos, a Anna Kariênina que pudemos ter. A interpretação hoje consagrada do narrador ambíguo e não confiável, representante da elite patriarcal brasileira, que suprime sua insegurança impondo cruel desterro à esposa, seria considerada esquerdismo militante, influência feminazi talvez. Para eles Capitu é culpada, não há dúvida.
Leia mais:
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/20/opinion/1469018989_707134.html?id_externo_rsoc=TW_CM