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O adeus em um olhar: a vida e a morte de Florestan Fernandes
FLORESTAN FERNANDES JR.
Não sei se é técnica do pessoal dos Estados Unidos para me convencer a ficar por aqui ou se é tudo realmente verdade. Inclusive, falaram-me da prisão do Octavio Ianni e, mais tarde, que ele fora solto. […] Com exceção do pessoal de casa, recebi muitas cartas aconselhando-me com ardor [a] evitar essa decisão que, para mim, é inevitável. […] Disseram-me que andam espalhando nas universidades que eu pretendo voltar porque “vou aderir” ao atual governo. É uma perversidade e tanto.”
Trechos da carta enviada pelo meu pai para minha mãe, Myrian Fernandes, em 24 de março de 1971, o pior momento da ditadura militar. Dois anos mais tarde, Florestan decide voltar ao Brasil e correr os riscos de sua decisão.
Para a surpresa da família e dele próprio, foi em um hospital, e não nos porões da ditadura, que a vida dele ficaria comprometida. Em uma transfusão de sangue realizada por causa de uma cirurgia ele foi contaminado pelo vírus da hepatite C. A infecção provocou uma cirrose hepática que durou 21 anos até levá-lo à morte.
Em agosto de 1995, dias antes de passar pelo transplante de fígado no Hospital das Clínicas de São Paulo, ele me disse que tinha bons motivos para acreditar que a contaminação teria sido proposital. Acostumado desde pequeno a lutar pela sobrevivência, Florestan não se abateu, mas lutou firme contra a doença. Fez dieta, parou de beber socialmente e cumpriu à risca o tratamento médico.