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Caco Barcellos: “Erros históricos nascem a partir da imprecisão jornalística”
Há 10 anos no ‘Profissão Repórter’ e assediado na Flip, o jornalista defende ouvir as vozes que soam
Caco Barcellos (Porto Alegre, 1950) é um dos repórteres mais conhecidos do Brasil, ainda assim não é esperado que caminhar ao ar livre com um jornalista seja comparável a circular com uma celebridade. Porém, para ele, é quase impossível dar dois passos sem que alguém peça uma foto, um autógrafo ou uns minutos de atenção a um assunto que pode render a próxima “reportagem maravilhosa”. Foi assim em Paraty, onde esteve durante a última Festa Literária de Paraty, onde participou de um debate com o repórter britânico Misha Glenny.
Há 10 anos à frente do programa Profissão Repórter, na Globo, e lançando um livro sobre essa trajetória, Caco, estatura, semblante e voz ultra-amigáveis, dá atenção a todos, sem distinção. Sorri para as selfies, anota contatos e dá o seu. Afinal, para alguém que aos 12 anos saía do bairro pobre onde morava para escutar histórias de pessoas que encontrava aleatoriamente e depois escrevê-las em casa, a rua manda.
Preciso fazer uma grande ressalva aqui, porque quando uma frase começa a circular, às vezes deixa de traduzir exatamente o que se disse. Não quero parecer pedante e nem ser o dono de verdade. Tenho o maior encanto e admiração e respeito pelo jornalismo de opinião. O que critiquei lá é quando isso vai para a reportagem. Não acho legítimo. O repórter tem o dever de ser preciso. Pode ser até analítico, mas não emitir juízo. Na reportagem de rua, fico imbuído, inclusive, de melhor informar o meu colega de opinião. Se eu não fizer isso de modo preciso e correto, ele vai emitir um juízo errado sobre aquele universo que estou retratando. E não só ele, mas também o advogado, o sociólogo, o antropólogo e mais para frente o historiador… todo mundo, na esteira do seu erro, pode cometer outros erros. Por exemplo, essa matança que a polícia militar provoca no cotidiano das grandes cidades brasileiras – isso é muito mal reportado pela mídia no seu conjunto. Quem sabe, lá no futuro, o historiador não passe em branco por esse momento da história. Não vai poder dizer “olha, os negros pobres do estado mais rico da federação estão sendo eliminados com a frequência de três por dia, um a cada oito horas”. Se o repórter não fizer esse registro preciso e contundente, a cadeia toda pode falhar, a começar pelo jornalista de opinião.
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