As crianças, combatentes involuntários
Em 12 de fevereiro celebra-se o Dia Internacional contra o Uso de Crianças Soldado. Atualmente, há cerca de 300.000 menores vítimas de recrutamento e que participam de mais de 30 conflitos em todo o mundo

Sessenta por cento dos membros de milícias na República Democrática do Congo (RDC) são menores de idade e a maior parte deles são menores de 15 anos, segundo dados da ONG World Vision. Tshibola foi um deles. Em um dia acordou com o som das armas enquanto a milícia, todos com seus lenços vermelhos, rodeavam a casa. Entraram e encontraram seu esconderijo. Sua família não estava em nenhuma parte. fugiu na noite, deixando Tshibola para trás. A milícia vasculhou a casa em busca de qualquer arma que pudesse ter ficado, mas não encontrou nada. Amarraram Tshibola e estavam prontos para matá-la. Mas ofereceram-lhe a opção de unir-se a eles se quisesse seguir com vida. Sequestrada, longe de seu lar e sem outra opção, aceitou. “Passamos dois dias de cerimônias de iniciação”, explica Tshibola. “Deram-me álcool e, no segundo dia, disseram que íamos à batalha. Os militares começaram a disparar quando chegamos, e me joguei ao chão (Tshibola recebia vários disparos nas pernas). O filho do comandante militar também foi forçado a entrar na milícia, mas foi assassinado”. Os militares trataram de curá-la e depois de a levarem ao acampamento militar em Kananga, em Kasai Central, para receber tratamento. Ficar ferida foi sua salvação porque Tshibola acabou chegando a um centro gerenciado pelo World Vision para ex -crianças soldado, mancando com muletas, mas viva. Atualmente, segue no centro, esperando notícias de sua família

“Meu nome é Matthieu. Tenho 13 anos e estava na quinta série antes da crise. Tenho uma irmã de cinco anos e um irmãozinho de sete. Tinha dois irmãos maiores, mas morreram no conflito, assim como meu pai e muitos de meus amigos. Após fugir de Tshikapa (República Democrática do Congo), finalmente chegamos a uma aldeia em Kasai Central. Mas a situação não foi muito melhor. Num dia, meu melhor amigo chegou a nossa casa e me disse que me unisse à milícia, essa era a melhor opção para crianças como nós. Neguei-me a o acompanhar. Mas todos seguimos na mesma aldeia e a situação é muito ruim. Algumas crianças que estavam nas milícias vêm para jogar, mas nunca ficam por muito tempo, porque os homens armados seguem buscando eles, para lhes matar. O garoto que costumava ser meu melhor amigo está entre eles. De vez em quando o vejo e a cada vez está mais magro, ficou louco por causa das drogas que lhe fazem consumir. Gostaria de fazer com que vomite tudo o que tomou, mas não posso porque os membros da milícia não gostam de me ver, porque me neguei a me unir a eles. Minha vida corre perigo nesta comunidade”.
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