Tags
afrodescendentes, fuzil, impunidade, negros, periferia, polícia militar, racismo, rio de janeiro, violência
Os tiros soam diferente na favela
PMs do Rio executam cinco rapazes de 16 a 26 anos com 50 tiros de fuzil em Costa Barros
Cinco famílias destruídas por mais uma chacina e uma cultura viciada da polícia no país
A máxima de atirar primeiro e perguntar depois
Wilton era o menino dos olhos da sua mãe. E da sua avó, com quem sempre dormia. Estudava contabilidade e, pela sua timidez, era raro vê-lo nas festas. Não bebia, conversava pouquinho e, com 20 anos, ainda pedia permissão para fazer planos. Assim foi no último sábado quando estacionou seu Fiat Palio branco na lanchonete onde sua mãe trabalhava de copeira e lhe disse que ia sair com os amigos, os da infância, com os que jogava videogame em casa. “Vai com Deus”, lhe disse a mulher, contente de ver o jovem na rua. Horas depois, Marcia Ferreira, de 38 anos, encontrou Wilton agonizando no volante do carro, perfurado por mais de 50 disparos de fuzil disparados por policiais. Junto com ele, jaziam banhados em sangue mais quatro amigos. Aos gritos, Márcia pediu para socorrer seu filho, mas a polícia não permitiu. Um dos agentes, assegura ela, lhe apontou um fuzil para afastá-la, e a mãe deu uns passos para trás enquanto Wilton morria, ainda com os olhos abertos. Dopada com tranquilizantes desde aquele dia, Marcia não conseguiu nem enterrar o filho nesta segunda-feira e desmaiou antes do funeral terminar. “Ele cuidava muito de mim. Quem vai cuidar de mim agora?”, pergunta a mãe antes de desabar.
A execução de Wilton, Wesley, Cleiton, Carlos Eduardo e Roberto em Costa Barros, um bairro pobre na Zona Norte do Rio, tinha todos os ingredientes para se fundir na estatística invisível dos autos de resistência no Estado do Rio de Janeiro, que justificaram, nos primeiros oito meses do ano, a morte de 459 pessoas em confronto com policiais, segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Rio. Eles eram jovens, pobres e negros – as principais vítimas de violência no Brasil – e rodavam à noite numa favela. Mas o tiroteio teve testemunhas que denunciaram que os agentes forjaram a cena do crime colocando uma arma perto do veículo e que aquilo foi uma emboscada. “É morador! É morador!”, gritaram os rapazes antes de morrer. Quatro policiais foram presos em flagrante e a versão de que estariam se defendendo de bandidos armados se desmoronou com as primeiras conclusões da perícia, que não achou indícios de disparos vindo do interior do carro.
Leia mais:
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/01/politica/1448999818_791150.html